A vida não para aos 60

Reportagem escrita pelos alunos de Comunicação Social - Jornalismo da UNIP Tatuapé, como parte do seu currículo acadêmico.

 

*Reportagem escrita por: Heitor Ferreira Silva, Julia Santos Silva, Karoline Guimarães e Letícia Ramos Siqueira.

A vida não para aos 60

A passagem para a terceira idade pode ser um desafio para alguns, mas não precisa ser enfrentado sozinho.

11% de idosos brasileiros com idades entre 60 a 64 anos foram diagnosticados com depressão, aponta uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A faixa etária detém a maior proporção entre os 11,2 milhões de brasileiros com a doença.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil é o segundo no ranking de países com indivíduos depressivos do continente americano, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.

O abandono como uma das causas

Entre os idosos, os institucionalizados em ILPIs (asilos) ou casas geriátricas são os mais suscetíveis à doença, devido às mudanças drásticas em suas vidas, adaptação às novas regras e horários, afastamento de parentes e conhecidos.

Não precisa enfrentar sozinho

A Fundação Britânica de Beneficência é uma das ONGs que realizam projetos que combatem a depressão na terceira idade. Para Ricardo Rosado (31), Coordenador de Desenvolvimento Institucional da entidade, a solidão pode acarretar problemas na saúde mental entre as pessoas dessa faixa etária. “A solidão é algo que debilita muito a saúde do idoso com o passar do tempo, nós os admitimos aqui para ter atividades de graça, porque entendemos que é muito benéfico nessa idade e eles chegam, fazem amigos, começam a participar dos eventos e mentalmente a saúde deles melhora muito por sair da situação de isolamento e solidão”, explica.

Desde a década de 40, a organização ajuda os mais necessitados em aspectos sociais. No passado, Helen Stacey enxergou uma forma de ajudar os ex-combatentes de guerra que queriam se refugiar no Brasil. Dentro de sua casa, no Jardim Europa, Helen os abrigava e cada pessoa morava em um quarto. Com o passar do tempo, as pessoas envelheceram e naturalmente a ONG passou a se dedicar-se à causa do idoso.

Durante vários anos a Fundação passou por diversas ações. Atualmente, existe o Centro de Convivência para o Idoso, que passou a ser um lugar para atividades ao longo do dia, sendo elas, teatro, aulas de inglês, yoga e a principal delas, a dança, que foi desenvolvida pelas voluntárias Victoria de Paula (23), produtora de eventos, e Taiane Almeida (27), professora de dança.

Elas perceberam que não existem muitos projetos voltados aos idosos, então tiveram a ideia de criar uma atividade que pudesse ajudar esse grupo. “Resolvemos juntar nossos trabalhos para fazer um projeto específico para terceira idade, porque a gente sente que é um grupo que tem uma carência muito grande de projetos que falem diretamente com eles, são escassos os locais na sociedade que essas pessoas podem frequentar e que os tirem dessa ideia de que idosos tem que fazer crochê, ficar em casa com o netos e tal”, relata Victoria.

Depressão em idosos e os riscos da doença nessa fase da vida

Com o avançar da idade, as dificuldades podem se acumular ou se apresentar a intervalos curtos de tempo, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a depressão atinge nos Estados Unidos, até 5% dos idosos que vivem em comunidade. Os números dobram se tratando daqueles internados em hospitais (11,5%) e dos doentes em homecare (13,5%).

O envelhecimento progressivo da população é um fator importante a ser considerado, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a proporção de pessoas acima de 60 anos vai quase duplicar até o ano de 2050, passando de 12% para 22% do total (de 900 milhões para 2 bilhões de indivíduos).

A depressão é uma das doenças mentais que mais atinge as pessoas da terceira idade, segundo Fabio Armentano, coordenador da equipe de psicogeriatria do AME. Segundo a psiquiatra Dra. Jandira Mansur, em entrevista ao site da Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, o predomínio da doença e como ela se manifesta pode variar de acordo com a situação do idoso.

“Para aqueles que vivem com a família e estão inseridos na comunidade, a prevalência de sintomas depressivos gira em torno de 15% da população idosa”, explica

“Esse número pode dobrar quando nos deparamos com idosos institucionalizados, que estão em casas de repouso ou asilos. Em pacientes hospitalizados por problemas de saúde, a prevalência chega a quase 50%”, continua Armetano.

O especialista divide as pessoas que têm depressão na terceira idade em dois grupos.

  • Aqueles que nunca tiveram depressão e passam a ter.
  • Aqueles que já vêm de um quadro de depressão ao longo da vida.

No primeiro caso, o componente hereditário é menor, a doença fica muito mais relacionada a dificuldades trazidas pelo envelhecimento em si, tais como problemas cognitivos, perda de papel social e limitações trazidas por doenças físicas. O segundo grupo envolve pacientes com histórico que remete a quadros depressivos prévios, tratados ou não, e que podem apresentar características de cronificação.

Apatia e negativismo

O psiquiatra gerontólogo Eduardo Nogueira, em entrevista ao Correio Braziliense, diz que a tristeza nem sempre está presente nos idosos deprimidos, há outras características que merecem atenção, como apatia, redução de contato social e negativismo. “Em situações assim, não é incomum ocorrer a depressão sem tristeza, que é menos perceptível para paciente, familiares e profissionais. Ou seja, atenção àqueles idosos que ficam muito quietos”, ensina

A doença não tem uma causa específica, podendo ser desencadeada por uma mistura de fatores psicológicos e sociais. Além dessas razões, a depressão em idosos pode se desencadear a partir de uma série de problemas relacionas à terceira idade, como o afastamento da família, a perda do papel social com a aposentadoria e o falecimento do cônjuge.

Esse foi o caso da aposentada Heloisa Carvalho de Abreu, 79 anos. Sendo uma pessoa muito alegre e divertida, conta sobre a história de suas grandes perdas e seu diagnóstico com a doença.

“Perdi meu marido, meu irmão e minha mãe, um atrás do outro. Foi muito forte. Meu marido e minha mãe eram muito importantes para mim. Eu não percebia, mas meu filho falou que depois que minha mãe morreu, eu fiquei diferente. Depois foi meu irmão que caiu em casa e morreu. Por fim meu marido, que tinha uma doença séria no coração, tinha mal de Parkinson e problemas pulmonares. Era uma luta terrível. Meu filho dizia que eu já não era mais a mesma. Passei em consultórios e me diagnosticaram com depressão”, relata.

Outro exemplo é a aposentada dona de casa, Cleide Terra Ultramari, 72 anos, que viu sua vida mudar após descobrir sobre a doença de sua mãe e passar a cuidar dela por 2 anos seguidos até sua morte. “Fiquei dois anos com a minha mãe direto, ela teve Alzheimer, eu estava cuidando dela pois já não andava mais. Meu marido também me ajudava. Depois ela faleceu e eu não queria mais sair de casa. Meus filhos me chamavam para sair e eu não queria ir, só ficava dentro de casa”, conta a idosa.

Tratamento

Tratar a depressão do idoso também é diferente, segundo o psiquiatra Carlos Galduróz para o Correio Braziliense, ele exige mais cuidados do que um adolescente ou um adulto. É preciso saber com detalhes como estão órgãos como fígado e rim. Isso porque eles podem ser afetados pelos antidepressivos. “Tem que tomar cuidado com a dose, porque o metabolismo do idoso é mais lento e essas drogas são metabolizadas no fígado. Se a gente der uma dose excessiva, esse remédio vai ficar muito tempo circulando, o que não é bom”, informa Galduróz

As condições do cérebro também influenciam o tratamento. “O cérebro do idoso está numa fase degenerativa. O número de neurônios vai diminuindo com o passar dos anos. Interfere até no prognóstico e talvez a pessoa com bastante idade não consiga ficar sem o remédio, por falta de neurônios”, completa o psiquiatra.

Prevenção

A pesquisa feita pela Organização Australiana “Beyond Blue” (Treatments for Depression) revela que alguns hábitos simples melhoram a qualidade de vida do idoso e pode ajudar a prevenir a depressão, tais como:

  • Dormir bem: quanto melhor a noite de sono, menos propenso é a chance de desenvolver a doença.
  • Exercitar-se: 30 minutos de exercícios físicos moderados aumentas os níveis de substâncias ligadas à sensação de bem-estar.
  • Meditar: a meditação ativa áreas do cérebro ligadas à felicidade, também é uma arma importante contra ansiedade e depressão.
  • Controlar as taxas de açúcar: corpo e mente estão intimamente ligados. Quedas e altas na taxa de açúcar no organismo (hipoglicemia e hiperglicemia) têm a capacidade de alterar o humor. Se isso ocorrer repetidamente, pode levar a um quadro agravante da doença.

A dança na terceira idade

Desde 2012 a população brasileira acima de 60 anos vem crescendo. Hoje, o número de idosos no país supera a marca de 30 milhões, segundo o PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), divulgada pelo IBGE.

Percebendo a carência de projetos para os idosos, Victoria e Taiane desenvolveram uma ação que pudesse ajudar tanto na parte motora e mental. Estudos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), relacionando dança e idosos comprovam que a atividade contribui para a saúde física e mental, especialmente no desenvolvimento da força, agilidade, flexibilidade, do ritmo e equilíbrio. Exercícios físicos, quando realizados regularmente, retardam as doenças que podem acometer pessoas nessa idade.

Para Heloisa, as atividades oferecidas na ONG a ajudaram a superar grandes traumas. “Uma pessoa que eu conheci me indicou esse Centro que é uma coisa maravilhosa. Tenho muitas atividades como pilates e dança. Meu filho me disse para não ficar em casa, para eu ir para rua, fazer exercícios. Ele quer me ver na rua, não em casa (risos). Isso aqui é uma benção de Deus na minha vida”, conta a aposentada.

A prática da dança ajuda a manter o cérebro em plena atividade, pois eleva a circulação cerebral em áreas adormecidas. Os estímulos desta atividade aumentam as conexões neuronais, o que proporciona ao idoso maiores habilidades no aprendizado, raciocínio e na memória. Esses exercícios reduzem o estresse e a ansiedade, elevam a autoestima e afastam os sintomas da depressão.

Sabendo desses benefícios, Victoria e Taiane ensinam diversos ritmos na Fundação. Em suas aulas, não são professoras “ditadoras de regras”, pois o intuito é estimular essas pessoas. “Nós não somos exigentes com as coisas, sempre estamos fazendo piadas. Eles se divertem, dão risada, porque eles já são pessoas que estão aqui procurando distrações para a cabeça, então não faz sentido nenhum elas chegarem aqui e encararem professores que exigem demais. A maioria está com depressão, ou teve uma grande perda na família”, declara Victoria.

O papel do Estado nesta causa

O texto da Constituição Federal de 1988 confere um modelo de seguridade social a todos os cidadãos. A assistência social é entendida como direito e não filantropia, portanto, é dever do Estado assegurá-la. Em 1993, a promulgação da Lei Orgânica da Assistência Social (Loas), reconheceu como política pública a oferta de proteção social independente de qualquer contribuição prévia à população socialmente vulnerável. E desde então, com o surgimento da lei 10.741 de 2003, o Estatuto do Idoso, passou a ser também um dever de toda a sociedade brasileira.

Em uma das perguntas, Heloisa respondeu não ver participação ativa do Governo na causa em questão. “Totalmente omisso”, afirmou ela.

Nota-se, portanto, que não basta a simples existência de normas jurídicas, é necessário que haja uma agenda estratégica bem definida no campo de política pública. A descentralização dessa responsabilidade permite que municípios e estados trabalhem juntamente com o Poder Público para incrementação de políticas que visem assistência e “empoderamento” do idoso.

A vida continua

Para que o envelhecimento seja uma experiência positiva, uma vida mais longa deve ser acompanhada de oportunidades contínuas de saúde, participação e segurança. De acordo com a estimativa de vida calculada pelo IBGE, quem nascer domingo (03/11) deverá viver, em média, pelo menos até os 74 anos. Essa realidade serve para formar um novo perfil da população brasileira.

Outra consequência desse avanço é a melhora da qualidade e longevidade da vida dos idosos, que passaram a ser cada vez mais ativos e movimentadores da economia. Segundo os dados divulgados em 2015 pelo IBGE, 27% da população idosa brasileira (acima dos 60) trabalhava em 2012.

Também de acordo com os dados do IBGE, a partir da década de 2030, o Brasil terá mais idosos do que crianças e adolescentes até 14 anos.

Sabendo disso, a FBB tem como exemplo Joana Barbosa de Lima, aposentada de 63 anos que diz em depoimento que sua vida nunca parou mesmo com a mudança para a terceira idade. “Minha vida sempre foi boa, não tenho nada do que reclamar. Não tenho nenhuma doença, graças a Deus. Viajo, passeio, fico em casa se tiver vontade, também se não tiver, eu saio. Trabalhei em banco. Sou aposentada já”, comenta.

Uma ação que ajuda

Querendo fazer seus beneficiários refletirem sobre a causa que eles estão ingressados, a ONG pensou em uma ação que pudesse uni-los. Trata-se da peça de teatro que aborda a passagem da terceira idade e o que eles sentiram ao entrar nesse grupo, dando para cada integrante um personagem/papel que os incentivam a desenvolverem pensamento crítico sobre o assunto, trazendo mais autonomia, criatividade e sentido de vida para os idosos.

O intuito da Fundação Britânica de Beneficência é mostrar para os idosos que a vida não para aos 60 anos. A ONG traz atividades que até mesmo as pessoas mais novas fazem, como a dança, teatro e aulas de inglês. Isso demonstra que os mais velhos também têm a capacidade de fazer tudo o que um jovem faz mesmo tendo suas limitações da idade.

Diário de Bordo

Sobre a ONG (Grupo)

Conhecemos a ONG, Fundação Britânica de Beneficência e ficamos encantados com a metodologia de trabalho proposto por voluntários e representantes com os idosos.

Durante as entrevistas conhecemos 4 mulheres que frequentam a ONG e participam das atividades neste local, Cleide, 72 anos; Heloisa, 80; Joana, 63 e Suzanne, 72. Foi simplesmente emocionante e inspirador o bate-papo com elas, jamais tínhamos a dimensão de quanto fazia bem a essas mulheres o trabalho fornecido pela Instituição. Atividades como aulas de inglês, teatro, informática, dança, yoga e ginástica. Elas contam com imensa alegria que participam de quase todas, e que essas atividades contribuem e muito para a saúde delas.

A FBB faz um trabalho maravilhoso para o desenvolvimento social do idoso. Muitos poderiam estar em suas casas, sentados o dia inteiro no sofá, tricotando, fazendo somente atividades domésticas, mas, o incentivo de continuar aprendendo os motivam cada dia mais a desenvolver atividades que contribuem e muito para continuar a vida e ser feliz.

Aprendizados

Julia

A FBB mudou meu conceito sobre as ONGs que abordam sobre a causa do Idoso, sempre tive o pensamento que Organizações que mexem com os mais velhos tinham atividades que não fugiam do padrão, como crochê, bingo, baralho e etc. Tendo a vivência com esta ONG, percebi que vai muito além disso e mudou completamente meu pensamento.

Sobre a causa da terceira idade, eu não tinha o menor conhecimento sobre o que os afetava diretamente. Com a APS, aprendi sobre assuntos que nunca passariam na minha cabeça, por exemplo, como a depressão pode atingir essa idade. Agora compreendo que a vida vai muito além dos 60 anos.

Letícia

Depois que a gente conheceu essa ONG, percebi que a minha visão sobre a causa do Idoso era limitada, pois achava que os asilos, hoje em dia aprendi que são chamados de ILPIs, apenas cuidavam dos idosos, não imaginava que teria diversas atividades. Os idosos são muito mais ativos e tem atividades que até eu gostaria de participar.

Percebi que os idosos são muito solitários e a ONG os ajuda na melhoria dessa questão também. Depois de entrevistar os idosos, entendi que temos que dar mais valor a eles, escutar suas histórias de vida, porque para nós agregaria bastante e infelizmente estamos deixando isso para trás.

Karoline

Desconstruída é a palavra. O fato de saber que envelhecer pode ser um processo difícil para alguns, e que o sentimento de desamparo está ligado a eles, tanto por parte do Governo quanto por parte de familiares, me tocou profundamente. Mas mesmo assim, todos ali procuram sua autonomia e sua própria maneira de continuar a vida. Fui entrevistá-los e ganhei uma aula de vida. Por cima de muitos medos que cercam a terceira idade, ainda há vontade de viver dentro deles, e isso é inspirador.

O trabalho da FBB e de todos os envolvidos é incrível. Eles olham para aqueles que tantos nos ensinaram e que hoje são deixados de lado. Eu me sinto muito mais motivada em voltar meu olhar para essa causa que faz toda a diferença na vida de tanta gente.

Heitor

Sempre me perguntei como seria a minha vida ao chegar aos 60 anos de idade. Eu, sendo jovem, sempre observei a sociedade anciã de passos lentos e cabelos brancos, como uma sociedade que iria encontrar inúmeras dificuldades para desenvolver suas capacidades de mobilidade e raciocínio em relação a uma pessoa que possui entre 18 e 30 anos de idade. Achei que com a chegada dessa idade, as dificuldades seriam as piores possíveis para viver.

Nesta APS, focamos nessa sociedade denominada para muitos “A melhor Idade”. Estava muito curioso para conhecer um pouco sobre a rotina deles, como eles conviviam entre si e desenvolviam sua mente.

A Fundação Britânica de Beneficência ao Idoso faz um trabalho maravilhoso para o desenvolvimento social do idoso. O incentivo de continuar aprendendo os motivam cada dia mais a desenvolver atividades que contribuem e muito para continuar a vida e ser feliz.

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