Escrito por Alessandra Macedo Pinto*
O dia 21 de setembro é mundialmente conhecido como o Dia da Conscientização sobre a Doença de Alzheimer e, por isso, neste mês todas as autoridades de saúde estão voltadas para lembrar as pessoas sobre essa condição, que afeta grande parte da população mundial e que está crescendo de maneira diretamente proporcional ao aumento da expectativa de vida. Essa conscientização é necessária para que a sociedade entenda a importância da prevenção, do diagnóstico precoce, dos cuidados e do apoio aos familiares e cuidadores das pessoas portadoras dessa doença.
A Doença de Alzheimer (DA) vem sendo estudada há bastante tempo, pois é a maior causa de demência em pessoas idosas. Ela acontece de maneira lenta e gradual, sendo muito difícil identificar com exatidão seu início. Acredita-se que as alterações cerebrais que caracterizam a doença ocorrem até anos antes do aparecimento dos primeiros sinais da doença. Até o momento não conseguiram desenvolver nenhum medicamento capaz de reverter essas alterações, que são responsáveis por todos os sinais clínicos e comportamentais da DA.
Conforme a progressão da doença, o indivíduo começa a manifestar algumas características típicas da enfermidade como:
- Alteração na memória. A capacidade de formar novas memórias é comprometida e as pessoas tendem a esquecer episódios recentes. A memória pregressa, ou seja, memória de fatos antigos, é preservada até os estágios mais tardios da doença.
- Incapacidade de planejamento e pensamento lógico são percebidos já no início da doença.
- Dificuldades em atividades como fazer compras, ligações telefônicas, entender custos e cálculos, que antes eram exercidas facilmente.
- Desorientação no tempo e no espaço é um sintoma recorrente, que pode fazer com que até um ambiente muito familiar não seja mais reconhecido. É comum o indivíduo se perder no próprio bairro ou mesmo dentro de casa. A perda da capacidade de orientação no tempo pode levar a pessoa, por exemplo, a se levantar no meio da noite e começar a preparar o almoço.
Em estágios moderados da doença, outros sintomas podem aparecer, como mudanças significativas de personalidade e dificuldades no uso da linguagem. Pessoas introvertidas e reservadas podem se tornar extrovertidas e de comportamento inapropriado e as que sempre se comunicaram bem podem ter problemas para compreender e expressar ideias.
Uma das estruturas cerebrais acometidas no início da DA é o hipocampo. É no hipocampo que se formam as memórias, por isso quando existe ruptura das conexões entre as células nessa região, a pessoa fica incapaz de criar novas memórias. À medida que a doença avança, todas as estruturas e regiões do cérebro são afetadas e, além da memória, outras habilidades e funções são perdidas, como a habilidade de comunicação, capacidade de locomoção, de deglutição, resultando na perda total da capacidade funcional e, consequentemente o óbito.
Apesar de ser uma doença progressiva e irreversível, a DA pode ser prevenida ou postergada. Um artigo da University College of London, que foi publicado em julho de 2020 na revista The Lancet, mostrou que 4 entre 10 casos de demência poderiam ser prevenidos ou adiados. Esse estudo aponta os principais fatores de risco para demências, incluindo a Doença de Alzheimer. Esses fatores de risco podem ser reversíveis, isto é, quando são modificados, evitados ou abandonados, podem prevenir o desenvolvimento de doenças. Evidências científicas de vários estudos apontam 12 fatores de risco relacionados com o desenvolvimento de demências, que são: baixa escolaridade, hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, sedentarismo, obesidade, depressão, perda auditiva, isolamento social, consumo de álcool, traumatismo craniano e poluição do ar.
As diferentes formas de envelhecer podem interferir no desenvolvimento de doenças na terceira idade e favorecer, nas classes menos privilegiadas da sociedade brasileira, o agravamento desses fatores de risco.
É importante dizer que, fatores de risco como baixa escolaridade não define isoladamente o destino de desenvolver ou não a DA. Em qualquer idade se pode desenvolver habilidades que favorecem novas conexões cerebrais como aprender a tocar um instrumento musical, a dançar, a falar um novo idioma, fazer artesanato, pintura, desenho, crochê, etc. Nunca é tarde para aprender, no sentido mais amplo que essa palavra possa ter; aqui não se está condenando a pessoa que não teve oportunidade de estudo formal.
Parece um discurso de “senso comum”, mas recomendações para manter o controle da pressão arterial e o diabetes, evitar o cigarro, o consumo de bebida alcoólica, o sedentarismo e a obesidade são medidas que não só vão influenciar na prevenção de demência como vão garantir a manutenção da qualidade de vida. O tratamento adequado de condições como a depressão e a diminuição auditiva vão favorecer o convívio social que, por sua vez, estimula o desenvolvimento cognitivo. E nada melhor para oxigenar o cérebro do que estar em contato com natureza e respirar o ar puro.
Já é sabido também a importância da prevenção de quedas na terceira idade pelo risco de fraturas. As concussões cerebrais e traumatismo craniano são, muitas vezes, decorrentes de quedas e podem desencadear alterações neuronais que resultam em demências.
É preciso ressaltar que para cada um desses fatores de risco, existe uma forma de intervenção e estudos mostram que algumas atividades iniciadas mesmo na terceira idade podem beneficiar o cérebro e evitar demências.
Diante do que foi exposto nesse artigo, é importante salientar que a conscientização da Doença de Alzheimer deve sempre incluir as medidas de prevenção da doença. O aumento da expectativa de vida é uma conquista não somente do avanço da medicina, mas também das melhores condições de vida e acesso à saúde, porém é preciso que esses anos acrescidos à vida da população sejam vividos com independência, autonomia e qualidade de vida. Esperamos que seja descoberto em breve um marcador biológico com assertividade no diagnóstico da Doença de Alzheimer para vislumbrarmos um futuro melhor.